sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Super-texto da couvezinha

Este é um texto que elogia a couve portuguesa plantada na Austrália, tendo atingido os 2,40 m de altura. Um irónico elogio de José Saramago ao que é genericamente português. Evidencia de uma forma bastante severa a falta de nacionalismo em Portugal, tendo esta semente de couve prosperado num local talvez menos fértil de uma forma tremendamente notável, isto é um retrato do clássico emigrante que em Portugal não enriquece mas ao emigrar, sendo a mesma pessoa com a mesma formação acaba por prosperar e melhorar a sua vida. Em Portugal não só não é dado valor ao povo que se tem como o mínimo de crença que se deposite é totalmente desperdiçado. Fala-se também de um individuo que foi procurando persistentemente ao longo de 17 anos o local onde esta semente pudesse prosperar, ainda que velho e cansado, não desistiu demonstrando assim a veemência do que é Nacional ainda que bastante superficial e ao nível do senso comum. Demonstra assim o já hábito do português que bate recordes que são por vezes ridículos não transmitindo qualquer tipo de confiança mas sim transparecendo um sentido redutor ao povo que se sente menor perante quem evolui no ramo cientifico-tecnológico.
"People, step up!"

Johannes Vermeer (1632-1675), "Mulher com um Colar de Pérolas" (1664, Barroco)



"Cesário Verde, Um pintor nascido Poeta".

"Manias!" de Cesário Verde

 Este como muitos outros de Cesário Verde, é um poema que trata de temas como o amor e a mulher.  Conta-se uma história acerca de um homem que seria conhecido do eu poético e que amava uma mulher que apesar de vaidosa era uma mulher de mau aspecto, mas, ainda assim impunha-se ao amante, influenciando-o.
  "Manias!" é um poema em soneto e subdivide-se em três partes contextualizadas.
 Na primeira parte do poema o eu poético faz uma ligeira introdução geral, opinando sobre a vida e o mundo, fazendo um contraste melancólico entre a tragédia e a comédia de que é feita a sociedade. É interessante como os dois versos cruzados "O mundo é uma velha cena ensanguentada" e "A vida é chula farsa assobiada" se contrapõem criando assim uma antítese deliberada, em que se, por um lado, existem as pessoas excessivamente preocupadas que encaram a vida como se fosse uma desgraça descomedida, como trata o primeiro verso, também existem pessoas que levam, ridiculamente, a vida de uma forma irreflectida.
 Na segunda parte, o sujeito lírico inicia o relato da história de um rapaz bondoso já falecido "Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada. --" a qual serve de suporte para a sua visão ironicamente negra do mundo, tratando do amor deste rapaz para com esta mulher pretensiosa que exercia no rapaz influência suficiente para este se mostrar receosamente obediente “…o dengue, em atitude receosa…”.
 Na terceira parte do soneto, última estrofe, dá-se a apresentação da ideia principal, ao que se chama “fechar com chave de ouro”. O sujeito poético critica, de modo trocista, a submissão daquele rapaz perante aquela mulher, evidenciando a devoção a Deus por parte da mulher, “…que a amante ia ouvir missa!”, e a devoção àquela mulher por parte do rapaz, “…sujeição canina mais submissa…”.
 Como referido inicialmente os temas mais significativos neste poema são a humilhação e a imagem do feminino, sendo o rapaz o símbolo da humilhação, uma vez que é submisso à mulher apesar de esta ter mau aspecto e ser mais velha que ele, o que acentua ainda mais a  vergonha sentida por este.
 Esta composição refere-se a uma mulher, que, é fria, perversa, altiva, poderosa, que só deve explicações a Deus, é vaidosa, afectada e egocêntrica, “…cheia de jactância quixotesca.”, e talvez de meia-idade, “…a deia já rugosa…”. Esta imagem da mulher é o símbolo da qualidade artificial da cidade. Desta forma, mais uma vez a cidade está presente no poema na forma de mulher que serve para retratar os valores em decadência e a violência social.
 Tudo é descrito como realmente acontece, o Parnasianismo encontra-se presente como corrente literária influente pelo que se recorre muitas vezes à descrição, nomeadamente do rapaz, da mulher e do mundo, usando termos concretos, claros e objectivos. Está presente uma clara busca pela perfeição que é notória na constante recorrência a vocabulário e a recursos estilísticos num campo mais estético que permitam uma maior expressividade. Existe também uma despersonalização da poesia, a fuga do "eu", muito pelo facto de a história ser narrada na terceira pessoa.
 Este poema é dum período em que Cesário Verde se dedicava na maior parte dos casos a composições poéticas de tom satírico, que é o caso de “Manias!”. Isto é claramente evidenciado pela ironia presente no próprio título do poema.
 Este poema é complexo no que respeita à linguagem, o que é devido, em grande parte, aos vocábulos pouco usuais, a linguagem é cuidada o que não é normal em Cesário. No entanto, a construção sintáctica das frases é simples. os recursos estílisticos mais utilizados neste poema são a metáfora, “Na sujeição canina mais submissa…”; a adjectivação e enumeração, “Perversíssima, esquálida e chagada…”; a hipálage, “Levava na tremente mão nervosa…”; a ironia, “O livro com que a amante ia ouvir missa!”; o assíndeto e a imagem, “O mundo é velha cena ensanguentada, / Coberta de remendos, picaresca…”; o disfemismo, “…hoje uma ossada…”, e, a exclamação, “O livro com que a amante ia ouvir missa!”.
 Para finalizar evidencio a forma como este poema foi elaborado, parecendo uma autêntica "pintura em prosa" que permite uma boa compreensão do espaço paisagístico e dos episódios que o poeta deseja transparecer ao leitor, é por isto que Cesário Verde foi, "o pintor nascido poeta".

             Manias!
O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada,--
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.
Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,
Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

Cesário Verde, publicado n’O Jornal da Tarde em Dezembro de 1874, no Porto

domingo, 27 de março de 2011

A Arte da Ironia nos Maias

Nascido a 25 de Novembro de 1845, José Maria Eça de Queirós foi um dos mais marcantes intelectuais da sua época e dos tempos actuais, nascido bastardo, foi educado num colégio interno devido a problemas intra-familiares desenvolveu assim uma visão irónica da sociedade retrógrada da sua época como defesa e que se traduz em muitas das suas obras, o que é bastante notório n´'"Os Maias". "Participou" na "Questão Coimbrã" e foi um dos activistas da "Geração de 70" e tem como influência Shakespeare principalmente, também Almeida Garret e alguns autores franceses como Gustave Flaubert, de quem foi discípulo recebendo grande influência literária sendo que este também poderá eventualmente ter sido influenciado por Eça como defende Miguel Unamuno na conhecida citação "citação em falta".
Em "Os Maias", Eça cria personagens que espelham diferentes aspectos da sua personalidade, muitos dos membros da família Maias e não só são exemplo óbvio disto. Esta sua obra tem como intriga principal o romance incestuoso entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, dois irmãos.
Sendo um verdadeiro patriota, Afonso da Maia assemelha-se bastante a Eça neste aspecto. Mas, é em Carlos da Maia e João da Ega que este paralelismo é mais exposto, Eça compara a sua situação como filho bastardo à de Carlos e Maria Eduarda que têm uma relação incestuosa.
(in acabado!)