sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Sermão na Actualidade


Hoje tomamos os direitos que temos e tudo o que podemos ou nos deixam fazer como um dado adquirido... No passado não era assim, Padre António Vieira, mestre da retórica e da persuasão, mostra uma genialidade extrema demonstrando ao povo os seus poderes e defendendo os seus direitos ainda mesmo de estes serem proclamados.
A 10 de Dezembro de 1948 foi emitida, em França, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois, muito antes, no Séc XVI, Vieira já defendia os Direitos Humanos em São Luís do Maranhão com a enunciação de um Sermão que viria a marcar a sociedade e o modo como fomos vivendo até aos tempos de hoje. Neste Sermão, Vieira fez ver aos homens a noção de humanidade, com uma comparação alegórica aos peixes, simples criaturas marinhas silenciosas, livres e no entanto com tantas virtudes ou vícios quanto o Homem. Fugiu ao medo e expôs as injustiças e crimes praticados contra os indígenas Brasileiros aos seus praticantes, os colonos portugueses no Brasil, que os exploravam escravizando-os. Vieira com alguma selectividade escolhe peixes representantes dos Vícios e das Virtudes, metaforiza as naus, meio utilizado nos Descobrimentos para a descoberta do Brasil, em tom de que teria sido melhor não termos descoberto o Brasil a estarmos a praticar tais injustiças. Evidencia alguns pecados como a vingança, a cobiça ou mesmo a sensualidade. Estes são pecados presentes mais que nunca nos dias de hoje, mais uma prova da intemporalidade desta obra. Demonstra mais uma vez uma inteligência extrema ao utilizar citações bíblicas como o próprio Conceito Predicável da obra, "Vos estis sal terræ".
Após 4 séculos de evolução massiva, a ética pouco parece ter evoluído, apesar de alguma evolução ao nível da exploração continua a haver tráfico de crianças e mulheres para a produção de alguns intens que nós mesmos consumimos e utilizamos no nosso dia a dia. O racismo que foi o principal propulsor da escravidão continua bem presente numa sociedade evoluída como a que em que vivemos.
Vieira salgou a Terra, salguemo-la também.

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